20 de jun. de 2009

refreshh

Queria muito ter um bom poder de síntese e uma memória decente pra poder contar o que passou nesses ultimos dois meses sem escrever… vou fazer o possivel.
Desde que voltei de Berlin tenho a sensacao de que alguma coisa se perdeu e outras como num passe de magica apareceram!
Ando com uma vontade de tacar fogo em alguma coisa…
Essa é uma das coisas que reapareceram: minha revolta e a gana que tenho de explodir coisas esta de volta. Andava meio dormente de novo, eu acho. Ou vai ver só nao tava dando ouvidos pra isso.
Bem, voltei de Berlin sem a menor vontade de voltar pra Folkwang. Pra minha surpresa o semestre foi super legal. Alem de ver o espetaculo da primavera européia acontecendo bem diante dos meus olhinhos e ver que aqui as pessoas também florescem nesse tempo, me dei conta de que essa renovacao que acontece no espaco ao redor da gente aqui, é digna de uma Sagracao. A merda é que a “virgem escolhida” no fim da história é sempre a gente mesmo; que vai morrendo lentamente durante o inverno pra depois dancar de pé descalco na primavera outra vez… e assim sussecivamente.
O negocio é que as coisas na escola mudaram bastante. Parei de brigar com tudo… comecei a “pegar amor nos bichinho”, a me dar melhor com o moderno, a andar mais pra frente no ballet, a sorrir mais, relaxer mais e trocar mais por consequencia. Parar de brigar é sempre bom…
Andei Salzburg, antes de Berlin e depois tbm. Fazendo a audicao da SEAD. Passei. Foi bem dificil e ainda esta sendo, mas me deixou bem feliz por me dar conta do quanto “já tá acontecendo”. De que as mudancas no meu corpo, na maneira de ver o mundo e meu trabalho já estao aí e que eu tenho articulado tudo isso sem sentir. Tenho muito material, fiquei surpreso com a quantidade de coisas bacanas que já fiz, de como o resultado delas foi e continua sendo bacana pra caralho. Me enchi de orgulho. Primeiro por ter me dado conta, finalmente, do resultado de quase um ano de trabalho cego. Segundo por que me chamaram direto pras finais em Salzburg e isso é merito meu, pelo curriculo que consegui acumular nesses 6 anos de trabalho como artista, pela maneira com que defendi e apresentei minhas ideias no material que enviei e pelas minhas relacoes com artistas promissores do meio de lá. E finalmente por que passei numa audicao difícil, super concorrida e pra uma escola européia MUITO BOA.
Me serviu também pra ver que apesar de querer exploder a Folkwang durante todo um semester, ela me fez muito bem! Me amadureceu, limpou, refinou… Me estapeou a cara e mostrou “o que falta”, “como falta”, ” por que falta” e me obrigou a parar de brigar tanto pra nao enlouquecer tanto antes do tempo. Paciencia e iniciativa, se ensina muito aqui… O que ainda me deixa muito descontente é a falta de espaco proprio de criacao, a proposta de massificacao que eles tentam incutir na cabeca das pessoas, a didática de algumas cadeiras que pra mim sao super importantes pra formar ARTISTAS e nao projetores de imagem. Bailarino sim, acefalo NAO. Vamo combiná, né gente? Já foi o tempo em que o fazer sobrepujava o saber(o que eu acredito que nunca funcionou muito bem).
Apresentei meus tres videos numa mostra coreográfica na Folkwang e fiquei muito surpreso. Sempre pensei que a minha friteira era alguma coisa que fazia sentido só pra mim e que especialmente aqui nesse context nao seria muito bem aceito. Pra me dar na cara outra vez, recebi muito bons feedbacks logo depois da mostra. Alguns muito especiais. Lutz Foster, diretor do curso de danca e bailarino da Pina me cumprimentou, disse que gostou muito do meu trabalho e que aprecia muito gente que se concentra e trabalha bem em uma coisa só. Brayan, meu professor de ballet me disse que ficou surpreso por que nao sabia o que poderia vir de mim. Que normalmente nao me mostro muito, mas que ele gostou muito dos videos. Stephan Brinkmann conversou comigo a cerca do processo por algum tempo(primeira vez que rolou troca desde que cheguei), me fez perguntas e no final disse que eu deveria fazer do video uma performance live, pq ele gostou muito da coreografia.(Ps.: O cartao postal chegou bem aos seus destinatários e a comunicao flui limpa e sem ruídos). E por fim, o coordenador do curso me chamou pra conversar uma semana depois e disse que no proximo semester eu preciso ter tempo, por que eles me querem pro próximo Jungen Choreographen. Com essas coisas fico feliz pra caralho. Me deixam satisfeito e me mostram que nem tudo esta perdido!
Os guris se foram de casa. Enyer voltou pra Venezuela pra resolver o visto e o Willi foi morar com o Timo mais perto da escola. E eu fiquei… Por sorte o Vermitter do apartamento tinha um quarto vago na casa dele e me ofereceu o lugar super de boa vontade. Mas igual, me sinto ainda um pouco sozinho e deslocado. Sem ter gente minha por perto.
Nunca tive muito com quem falar das minhas coisas, e tbm até agora nunca achei ninguem que falasse a minha lingua em um sentido bem especifico: o de saber ouvir. As pessoas aqui olham seus umbigos como em nenhum outro lugar. E eu tenho medo de ficar assim também. De aprender a fazer vista grossa pro outro. De perguntar sem querer saber. E de oferecer sem querer de fato dar. Pra mim esse é o pior. Perder a generosidade, esquecer do que as pessoas sao feitas.
Por outro lado, essa coisa toda de ficar sozinho me aproximou mais de algumas pessoas bacanas e me fez ansiar mais por contato com gente nova. De fora do circuito “Hola que tal?”. E isso tem me feito feliz.
Tenho saudade. Acho que esse é o meu mal desde que cheguei aqui. To loko pra voltar pra casa e ver todo mundo. O bom é que ta perto! Muito perto!
E agora deu.

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