1 de out. de 2008

Eu chovo!!!

Eu chovo.

O dia começou num cinza tao escuro, mas tao escuro que dava medo de sair porta afora.
Acordei com um no no estomago. Um coelhinho pra vomitar. Borboletas brotando da minha cabeça. Tomei uma xicara de café e me forcei a engolir dois biscoitos de mel. Trancaram no no…

Enchi uma garrafinha com agua, coloquei na mochila junto com o resto das coisas. Pegara a carta da escola? Pegara. Dinheiro, sapatilhas, coragem? Pegara.
Saimos, eu e Rico.
Chegando na escola, o local da prova mudara. Fomos ao novo. E o coelhinho se remexendo. As borboletas em revoada sobre a minha cabeça. Fiz o pagamento, o “check-in”, peguei meu numero. Pra prova recebiamos um numero. 237.
Subi pro vestiario, me troquei. Desci, “entrei na sala, fechei a porta, abri a janela, deitei no chao, abri as pernas”… Cheguei em casa.
Logo a prova de classico iria comecar. Chegaram os professores.
Eu era o segundo na ponta da barra, por muita sorte nao fui o primeiro. Teria feito tudo sendo fulminado por Malou Airaudo. Assim mesmo ela jah me comia com os olhos. E que olhos tem aquela mulher. Uma cara seria, de ave de rapina. Aguia, falcao, ou outro bicho do tipo.

A prova de classico começara. Eu ali concentrado entre duas Coreanas. O professor de Ballet, uma figura no minimo engraçada. “Now, you have to do a lovely plié and stretch…” Ja tinha feito aula com ele durante a semana passada. Teria me desconcentrado se fosse a primeira vez. Mas tava ali concentrado. Serio feito gato cagando. Fiz. Fui bem. Chegara a hora da diagonal no centro. Ele passou o exercicio. Era quase igual ao da aula que fiz com o segundo ano. Acertei! Relaxei…

Em seguida Flamenco.
Tirei de letra. Segurei no carao de ticudo.
Me sinto ticudo fazendo flamenco.
Se realmente funciona nao sei, mas que eu sinto, eu sinto.

Moderno. O professor é brasileiro.
Qualquer coisa, ele fala a minha lingua, pensei.
Começou. O primeiro exercicio era uma enrolada de coluna. Decomposta. Dividida em tres partes.
Depois bauces, e meia-pontas, tudo ligadinho bem bom de fazer. Lembrava todo tempo da Tati e da Lu Paludo. Os espacos, a “presença nos bracos”, o lugar de entre as escapulas, a coluna que cresce pra cima, o “y” do pé . Fiz bem bonito. Depois as diagonais. Fiz também. O que nao ficava claro na minha cabeca eu fazia igual, a minha moda… uhauhuauhahua acho que funcionou.

Tava estranhamente tranquilo. Depois de um certo tempo devo ter suado o maldito coelhinho e as borboletas se perderam da minha cabeça nalgum salto. Certamente.
Conseguia achar graça nas coisas. E brincar de dançar. E a Lu Paludo dizia dentro da minha cabeça o tempo todo o que me escrevera ontem: “Nao é nada que tu jah nao tenha feito. Tu vai fazer uma aula e dançar depois”. Repetidas vezes.
Funcionou.

Intervalo.
Preciso fumar. Tava feliz. Bem feliz.
Ansioso. Mas feliz.
Fui pra rua. Uma chuva…
Meu cigarro, uns colegas do Rico e uns colegas da audiçao.
Traguei, que prazer.
Agora tinha de dançar.
De novo ela. Lu Paludo na minha cabeça.
Agora tinha mais gente pra engrossar o coro. Thais e Tati Rosa.
Uma dizia: “Esteja presente, traz o corpo contigo, te coloque sereno pra dançar…”
Outra: “Observa, recebe e distribui…”
E por fim: “Deixa que a dança te saia pelos olhos, dança com o espaço e te apoia nele…”

Entrei pra sala de volta.
Cd e sapatilha na mao. Fui ao som escolher minha musica. A bateria do celular acabara. Queria que tivesse acontecido em cena… Repassei uma sequecia de braços que montei pros momentos iniciais, até passar o panico. E logo iniciaram as apresentaçoes.

O tempo passando. As pessoas dançavam. Coisas boas, outras bizzarras. E eu ali.
O coelhinho me acenava sentado num canto da sala. E as borboletas voavam pelo teto. Procurando a minha cabeça outra vez… Tirava o foco disso, ouvia as tres na minha cabeça… Era melhor.

Chegou minha vez. Foi como acordar de uma anestesia. Nem tinha colocado as sapatilhas.
Entreguei o CD. Sentei no chao no meio da sala. Enfiei as sapatilhas. Lembrei da Tati dizendo: “E jah começou!!!!”
Ok. Respirei fundo, levantei.
Passei os olhos nas pessoas, me coloquei.
A musica começou e a dança ia saindo de mim de um jeito que eu nao entendia muito bem como.
Era bom. Mas eu nao entendia como. Passada a coreografia para os momentos de panico, era hora de improvisar e ganhar o espaço. Me sentia grande e rapido e livre.
Meio giro e diagonal-esquerda-fundo.
E a dança saindo… Jorrava.
Queria acalmar e me desequilibrei, fui pro chao.
Tranquilo, deixei o corpo resolver. Rolei macio e preparei o rebote que me faria levantar. Postos os pés no chao o tempo acabou… Foi!!!

A torneirinha da dança foi enfraquecendo e parou de jorrar.
Sentei. Cego, surdo e mudo.
Olhei pro Rico que sorria.
Virei pra frentre com a sensaçao de que agora estava tudo bem. Mas ainda faltava um tanto.
Aquela oriental dançava e as nuvens sairam da frente do sol. Ele entrou pela janela, como que fazendo um foco bem no lugar onde ela estava. Foi lindo!
Os olhos acesos, a sala toda branca, os cabelos e a roupa pretos.
Acabaram as apresentaçoes. Saimos.

O resultado demorou cerca de meia hora.
4 homens latinos, uma europeia, e mais 8 ou 9 orientais.
Dor e delicia no mesmo lugar ao mesmo tempo. Uns comemorando, outros lamentando.

Felizmente eu estava comemorando.
O coelhinho desaparecera, as borboletas voaram atravessando as vidraças e se foram.
Chovia de novo. Eu chovia de novo.
Eu continuo chovendo.
Desde aquele instante eu chovo.

Feliz, chuva de verao.

5 comentários:

MaKe disse...

AHAZO BIXA!!!!!

Jeni disse...

Chovo aqui também!!! Que delícia esse texto!!! Parecia que eu tava lá te assistindo!!! To muito feliz e orgulhosa de ti!!! Tu é um xuxu!!! Amo de bastantão, bem bem...
Beijim e arrasa sempre!!! IUPIIIIIIII!!!!!

Nicole disse...

A chuva chega aqui!!!Coisa boa chuver e chuver e molhar tudo de alegria e esperança, e orgulho e amor!!!
E certo que não só aqui, já percebe-se pela declaração do Make(saudade deste sem noção tbm).
AAAAHHHHHH!!
CHOVE CHUVA CHOVE SEM PARAR...
AMO,AMO,AMO...
NICO DO DOUG!

Luiza Moraes disse...

coelhinho acenando no canto da sala...
impagável! hihihihi
queria tanto ter visto... nao o coelhinho, tu mesmo. mas eu imagino. aiai, coisa boa. orgulho da mamae!

Graziela Silveira disse...

Eu fiquei tão feliz lendo o teu texto e, quando comecei a escrever o comentário, meus olhos se encheram de lágrimas. Estou transbordando de alegria aqui do outro lado do Atlântico. Queria poder te dar um abraço apertado agora. Não estamos próximos fisicamente, mas sei que tu podes sentir o meu carinho chegando aí. Continua arrasando, Core querido. Bjos