Graffitis

Por meus passos velozes
vapores
suores
sotaques
antenas
Antunes
stones
Por meus passos ligeiros
graffitis
mau cheiro
Não fosse por você eu não notava essa cidade

O meu amor pelas misérias
me leva,
me trouxe,
roça o que interessa
e fez de mim
alguém que eu sou hoje

Em meus passos, sapatos
poeiras
postes
postos
poetas
profetas
projetos
notícias
negócios
Por meus passos rápidos,
meus alvos
meu norte
Por minha lente meu olhar,
meu foco
meus olhos

O meu amor pelas misérias
me leva,
me trouxe,
roça o que interessa
e fez de mim
alguém que eu sou hoje

Adriana Calcanhotto


Por aqui um turbilhao tranquilo.
Um vendaval sutil ta passando.
Essa semana tive uma conversa com o Rico e chegamos ao ponto que vinha me parecendo inevitavel:
Tenho que me mudar. Achar uma nova casa.

Ok, baby.

Dai o vendaval traquilo.
To sem emprego ainda, sem dinheiro, sem casa, poucos amigos e tenho quatro anos de Alemanha pela frente. E incrivelmente traquilo. Tenho exercitado a abertura do foco. Dar a devida importancia a cada coisa em seu tempo. Prestar atencao no agora com um rabo de olho no devir e outro nos referenciais anteriores. Hoje faz exatamente um mes que sai do Brasil. Tenho a sensacao de que ja faz tanto tempo que eu to aqui.

Andar por essa cidade ainda e um pouco estranho pra mim.
Essen tem se revelado uma Babel. De linguas, de gostos, de rostos, de cenas, de sentimentos.
Sinto que nesse um mes de Alemanha, eu amadureci um ano. Ainda to me procurando por aqui. Acho que minhas partes se espalharam no vendaval e foram uma pra cada canto. Agora tenho que encontrar e juntar tudo de novo. Bom que a cabeca ficou.

Vai ser bom achar um novo ponto de vista pro mundo. Outro ponto de partida.
Vejo a instituicao “casa” como ponto de vista/partida/observatorio do mundo. Renovar essa perspectiva pela sexta vez em 5 anos, agora em outro pais, vai ser uma experiencia e tanto. E, parafraseando a Nico, o que me deixa de bem com isso eh esse “efeito jubarte”. O mundo acabando, os pedacos espalhados, as perspectivas turvas e a calma aqui. Persistente.

O corpo tem me dito coisas lindas. Confio cada vez mais nele.

O tempo constroi, sustenta e desconstroi o espaco.
O corpo tambem constroi, sustenta e desconstroi o espaco.

Minha tarefa agora e justamente construir e sustentar o meu espaco/tempo enquanto me convier, pra entao depois desconstruir aqui e comecar o processo de novo em outro lugar, outro tempo, outro corpo, outro mundo.

De modo geral to feliz.
Feliz por estar aqui vivendo essas mudancas. Por ter a chance de passar pelo olho do furacao e realmente deixar ele me levar. Me misturar com os destrocos pra no fim ver o que realmente e concreto.

Um tempo de (re)construcao.